"A Metamorfose " Kafka

"Entretanto, o dinheiro não era de nenhum modo suficiente para que a família pudesse, por exemplo, viver de seus juros; talvez fosse suficiente para mante-los durante dois, no máximo três anos; mais do que isso não. Era pois, apenas uma soma que a princípio não deveria ser usada,mas deixada de lado para algum caso de necessidade; o dinheiro para viver, no entanto, tinha que ser ganho.
Mas o pai, em todo caso, embora fosse um homem saudável, já estava velho, e não trabalhava mais nada há cinco anos; seja como for ele não era capaz de fazer muita coisa; nesses cinco anos, que haviam sido as primeiras férias de sua vida cansativa - em todo caso fracassada -, ele havia juntado bastante gordura,e por causa dela se tornara absolutamente lerdo. E a velha mãe, então, será que ela deveria ganhar dinheir? ela que sofria de asma, para quem um simples passeio pela casa já necessitava esforço, sendo que, dia sim dia não, passava o tempo inteiro sobre o sofá, queixando-se ..."
"Na verdade não eram mais as conversações animadas de tempos passados, nas quais Gregor não parava de pensar com saudades. nos pequenos quartos de hotel em que ficava, quando tinha de se atirar, cansado, sobre os lençóis úmidos. Agora tudo se passava, na maior parte das vezes de um modo calmo. O pai adormecia em pouco tempo depois do jantar, sentado sobre sua cadeira; a mãe e a irmã se advertiam uma à outra, lembrando a necessidade do silêncio; a mãe costura, muito inclinada sob a luz, roupas de baixo para a firma de moda; a irmã, que havia aceito um emprego como vendedora, estudava estenografia e francês à noite..."
"De sua família , ele se recordava com amor e comoção. Sua própria opinião de que deveria desaparecer era, talvez, ainda mais decidida do que a irmã. Permaneceu neste estado de reflexões vazias e pacificas até que o relógio da torre bateu três horas da madrugada. Ainda vivenciou o início do alvorecer geral do dia lá fora, além da janela. Em seguida, sem que ele o quisesse, sua cabeça inclinou-se totalmente para baixo e das suas ventas brotou, fraco, seu último suspiro..."